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O que é bioconstrução?

O que é bioconstrução?

O que é Bioconstrução?

Provavelmente você já ouviu falar de Bioconstrução. Talvez com outras terminologias. Caso o contrário, já te adianto que é um tema antigo que vem ganhando muitos adeptos que buscam uma nova consciência acerca do modo de habitar. A Bioconstrução, que vem sendo assim chamada a partir da popularização do termo desde o inicio do século XXI com o Instituto de Permacultura do Cerrado, tem como premissas a construção com materiais não convencionais e a valorização dos recursos humanos, favorecendo a autoconstrução e trazendo um cenário mais amistoso a quem queira construir com as próprias mãos. São saberes que permeiam centenas de gerações, desde que o ser humano saiu das cavernas e começou a usar barro e galhos para criar habitações provisórias. Os avanços e descobertas foram surgindo e as casas foram ganhando caráter fixo, com formas e estruturas bem adaptados à medida que as criações ganhavam confiança.

O próprio cimento, que existe a menos de 100 anos, era produzido localmente pelo império romano ao misturar calcário e pozolana (argila cozida), proporcionando a execução de rodovias e aquedutos que trouxeram mais ousadia à engenharia. As revoluções resultaram no crescimento desenfreado das civilizações e o conhecimento acerca do manejo dos materiais de construção naturais foram se perdendo, mantendo-se mais presente em regiões mais tradicionais e nas áreas rurais ou desfavorecidas onde a terra sempre foi disponível e gratuita, onde a escolha na maioria das vezes era feita por necessidade e a arquitetura vernacular foi muito mais preservada.

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Pois bem. De alguns anos para cá, com a permacultura e todos os desdobramentos de uma era onde deixamos de somente jogar lixo na lixeira e complementamos nossos hábitos a produzir menos lixo, a escolha por técnicas de baixo impacto na construção civil no Brasil vem crescendo e, o aproveitamento local dos recursos humanos e materiais está cada vez mais em evidência. A terra é, dentre muitas matérias-primas, a mais abundante e disponível em quase todos os países. Tem baixo custo de escavação e transporte, resistente ao fogo, de fácil assimilação por mão-de-obra não qualificada, bom desempenho energético, é reciclável e não poluente, dentre outros benefícios. Suas formas de manejo e beneficiamento nas construções são inúmeras, com técnicas mais favoráveis à determinadas regiões por motivos diversos.

Abaixo, estão listadas 05 (cinco) das mais utilizadas em nosso país de alguns anos para cá. Vamos às breves introduções sobre elas?

ADOBE

A palavra surgiu do termo árabe thobe, que significa barro. Adobe quer dizer “tijolo de terra crua”, onde não necessita queima e pode ser feito localmente, com formatos variados e em grandes quantidades – podendo chegar a mais de 500 unidades feitas por uma só pessoa. O adobe é uma das técnicas mais antigas que os registros apontam, onde eram moldados à mão e erguidos com agilidade. Tem uma excelente aceitação nos dias atuais, por ter uma dinâmica de execução semelhante aos tijolos cerâmicos onde muitos profissionais já estão habituados. Além disso, é uma técnica relativamente barata por não precisar de muitas ferramentas e ser possível a fabricação dos adobes com apenas uma fôrma, bem como está oficialmente normatizada pela ABNT, com a NBR 16814:2020. Seu traço, de acordo com a norma, tem entre 45% a 65% de areia, 25% a 35% de argila e até 30% de silte. O uso de fibras vegetais, picadas ou no esterco, auxilia no não surgimento de trincas e traz reforços às trações. Basta preencher a fôrma com a massa e esperar secar, seja no sol ou na sombra sempre com ventilação. O levante das paredes é feito com amarrações e assentados com a mesma massa dos quais foram feitos.

(Fonte: Acervo próprio)

 

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TAIPA DE MÃO

Assim chamada por estampar as marcas dos dedos de quem construiu, como uma forma de identidade. É também conhecida no Brasil como taipa de sopapo ou pau-a-pique. Surgiu a partir das influências africanas e portuguesas em conjunto com as tipologias indígenas, e permitiu a construção de alvenarias de vedação no período colonial, principalmente para as divisórias internas das casas construídas com “terra batida” (comentada no parágrafo a seguir). Sua vantagem está na substancial agilidade de execução, onde a madeira ou o bambu está disponível para a criação da trama e todas as paredes podem ser feitas em um só dia. A trama, na maioria das vezes, não é estrutural e serve para agarrar o barro e permitir que o mesmo se sustente enquanto se seca, preservando assim tudo que está em seu interior. Por mais que agentes externos invadam, como o cupim por exemplo, a parede estará suficientemente rígida e firme para se manter erguida. Há também tramas estruturais, que são feitas com madeiras mais duras ou bambus tratados e dimensionadas de acordo com a demanda. Seu traço se assemelha ao mesmo do adobe, porém sem grandes exigências já que as trincas são revestidas posteriormente com um reboco mais refinado com agregados, aglutinantes e fibras que renunciam a fissuração.

(Fonte: Acervo próprio)

TAIPA DE PILÃO

É também chamada de taipa e existe a milhares de anos, apesar do seu uso por finalidades estéticas estar crescendo nos últimos anos. A taipa era a principal técnica utilizada nas construções dos casarões no período colonial, como alvenaria estrutural. Está presente na construção de prédios, como é o caso da cidade de Sanaã, no Iêmen. É uma técnica muito bem aceita e aplicada, por necessitar de apenas barro e o taipal, como é chamado o molde que permite a execução da parede. O barro muitas vezes não precisa ser estabilizado senão de maneira física, com a compactação. A compactação resulta no adensamento entre as partículas que permite o aumento da resistência. É aconselhável que a espessura mínima da parede seja de 20cm para vedação ou de 30cm para estruturas. Uma boa dica para o feitio é estar atento ao ponto de umidade ideal da terra, já que as partículas de água podem ocupar muitos espaços vazios e assim prejudicar a execução, bem como a sua falta pode inibir a coesão dos elementos. A técnica consiste, basicamente, em criar um taipal resistente e de fácil desmonte, com superfícies internas lisas (podendo conter óleo ou ser plastificada) para facilitar o desmolde, preenchendo-a a cada 20cm e compactando-a até o som da compactação estar seco e não haver marcas quando o(a) construtor(a) empurrar seu calcanhar contra a superfície superior da parede. Diferentes tons de terra podem ser usados para criar degradê ou até mesmo incluir cascalhos como efeito estético.

 

(Fonte: The Brinton Museum)

HIPERADOBE

Apesar do nome, não tem nenhuma relação com os tijolos de terra crua. A técnica é uma melhoria do superadobe, onde a diferença está somente na estrutura da malha das sacarias. O Superadobe foi criado pelo arquiteto iraniano Nader Khalili, a partir da busca de uma maneira eficaz de construção em solo lunar em um concurso feito pela NASA. São usadas bobinas de sacarias contínuas que são preenchidas com barro para em seguida ser compactado, em fiadas que variam entre 35, 40 e 50cm de largura, com cerca de 12cm de espessura. Anos mais tarde, o engenheiro brasileiro Fernando Pacheco decidiu complementar a técnica com seus conhecimentos e substituiu a antiga malha de ráfia, feita em polipropileno, por uma malha de polietileno de alta densidade, chamada de raschel. Popularmente falando, trocou os sacos de farinha por sacos de laranja, com malhas abertas que permitem a ancoragem entre as fiadas e o revestimento, antes possível com o uso de arames farpados entre as fiadas e a queima das sacarias para a exposição do barro e a aplicação do reboco. São paredes autoportantes (estruturais), que exige um mínimo de 3 pessoas para a sua execução, sem a necessidade de fibras, interrupções para cura ou secagem, com menos especificidade no traço e parâmetros de umidade mais amplos, sendo possível a construção de domos, fundações e paredes.

 

(Fonte: Acervo próprio)

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CORDWOOD

Ou cobwood, como preferir. Foi muito usado para alvenarias estruturais em anos passados, com madeiras abundantes e pouca preocupação quando ao seu uso consciente, sendo mais requisitada hoje em dia para alvenaria de vedação por sua beleza e reaproveitamento das sobras de toras de madeira. Suas paredes são erguidas com as toras assentadas com uma argamassa feita com argila, areia e fibras, com algumas variações. Madeiras lisas e roliças recebem cordas ou pregos para se fixarem mesmo após a argamassa secar, sem que “corram” do interior da parede. Podem ser usadas peças de diferentes tamanhos, com peças preferencialmente resistentes aos ataques de agentes externos ou revestidas com medidas protetivas, no caso da escolha de espécies macias. O uso de madeiras secas é fundamental para evitar fissuração posterior, possíveis trincas da argamassa ou espaços vazios entre os diferentes materiais por retrações. Ao usar toras rachadas, as fendas devem estar para baixo para evitar o acúmulo de água quando feitas em áreas externas

 

(Fonte: Acervo próprio)

Vale salientar que existem muitas outras técnicas construtivas, algumas nem conhecidas no nosso país ou simplesmente inviáveis por proporcionarem características desfavoráveis ao nosso clima. A bioconstrução cresce a cada dia, com novas discussões e normativas sendo criadas, solucionando problemas de vulnerabilidade social e ajudando a manter o nosso meio ambiente preservado, desde a extração, o uso e o descarte das edificações. São conhecimentos que por muitos são esquecidos e algumas vezes negligenciados, o que pode inibir a confiança em se construir com terra e seu consequente preconceito. Suas vantagens são inúmeras e sugiro que comece o quanto antes, compreendendo os comportamentos e dinâmicas dos materiais, sempre testando e aprendendo entre a teoria e, especialmente, a prática. A satisfação estará presente em todas as esferas da vida, seja em âmbito social, profissional ou pessoal.

 

Essa matéria foi escrita por Caio Martins, arquiteto e bioconstrutor, gosta de ministrar cursos e é autor-responsável pelo canal de aprendizado e partilha de informações Bioconstrução Brasil, que pode ser encontrado no Instagram (@bioconstrucao) e em outras plataformas digitais. Encontrou na permacultura formas de projetar que favorecem a vida em conjunto com as dinâmicas da natureza, com baixo impacto negativo e máxima integração entre os seres e o espaço.

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